Matéria – 14/09/08 – Abutres no céu

Abutres no céu

O período eleitoral é mesmo um grande acontecimento. Nas grandes democracias estabelecidas é o instrumento legítimo de sucessão governamental. Dando ao cidadão a oportunidade de participar na escolha de seus representantes. Caracteriza-se pelo confronto de propostas e críticas, partidos políticos e candidatos, posturas e personagens. Da mistura de tais ingredientes, no ocaso desse pleito, Anápolis tem assistido a uma trama digna dos folhetins televisivos.
A “história” que antes se fazia com o debate salutar de propostas e idéias, agora se faz com panfletaria anônima, denúncias de pedofilia, aliciamento de menores, pais indignados, políticos de um lado acusados e de outro com dedos em riste. No “núcleo secundário da novela” temos delegados, promotores, juízes, advogados e a imprensa. Ou seja, toda uma sorte de personagens, fatos e situações dramáticas. Verdadeira matéria-prima para uma boa “estória” que prenda a dona de casa na frente da televisão.
Infelizmente não vivemos uma novela, uma trama engenhosamente elaborada para mexer com a emoções humanas. Vivemos uma situação real, inusitada e inacreditável, com uma certeza marcante: essa “estória” toda fez vítimas.
As vítimas reais, na figura das crianças e familiares envolvidos. A inocência perdida e a honra atingida. Aquelas, vítimas senão de abuso sexual, no mínimo do abuso e da subversão daqueles que tentaram manipular suas vidas. Seus familiares foram jogados em cena numa situação deplorável e vergonhosa. Tendo que se expor e tentar explicar o inexplicável.
E as vítimas verdadeiras, na figura dos eleitores, do processo eleitoral e da própria democracia.
Assistimos uma guerra, antes inofensiva, travada em nossas ruas diariamente, entre bandeiras e legendas levadas por seus estandartes partidários, fazer suas primeiras vítimas reais. Colocando à prova nossa capacidade de indignação.
O que pensam dos eleitores fica claro com tais comportamentos. Diante dessa política velha, suja e decrépita, de uma época coronelista e vergonhosa de nossa história, descobrimos que temos muito ainda a fazer. Ao eleitor/expectador resta o papel de expurgar tais práticas e comportamentos deploráveis. Expurgar a podridão e o mau cheiro exalado na reta final dessa campanha, exigindo das autoridades públicas, o tal “núcleo secundário”, que prevaleça e apure e puna os responsáveis.
Precisamos demonstrar que é inaceitável recorrer-se a tais baixezas, pois voto não se compra tal qual não se compra consciência e dignidade.
Tentemos, contudo, vislumbrar no meio dessa luta os verdadeiros heróis e as verdadeiras vítimas. Reconheçamos os candidatos de conduta séria e postura correta na defesa da sociedade e da democracia. Aqueles que sabem que somente com direcionamento, responsabilidade e, principalmente, sem a perda do senso de respeito à sociedade e ao processo eleitoral pode-se disputar uma vaga de representante público.
Vamos refletir sobre o valor das eleições. O porquê de alguns serem capazes de quaisquer subterfúgios para prevalecer sobre o adversário, recorrendo ao desrespeito e a covardia do anonimato, em acusações sérias e tramóias armadas, que deixam vítimas verdadeiras. Aquelas vítimas da inocência e da desonra.
Onde antes vislumbrava um belo horizonte, de futuro promissor, vejo agora abutres no céu. Essas figuras estóicas e negras de maus presságios pairam sobre nós, sinalizando a degradação máxima com que alguns tentam atingir seus objetivos. Representam os glutões da democracia, aqueles que pelejam em transformar a política em uma guerra insana e vergonhosa.

YURI GARGARIN DE ALMEIDA
Presidente do Sindianápolis

SINDICATO DOS FUNCIONÁRIOS E SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ANÁPOLIS

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