Matéria -14/04/07 – A casa vazia e muda

A casca vazia e muda.

“Desaparecidos o castelo e o palácio cortesão, limitada a importância monumental da igreja, os novos edifícios monumentais (estações, fabrica, estádios, hangares, arranha-céus) estão, quase todos, intimamente unidos a uma finalidade prática, mais que representativa”. (GILLO DORFLES)

Quem passou em frente ao Centro Administrativo nesta semana, deparou com um visual diferente. Barraquinhas montadas para a Feivest 2007 nos grandes terraços que coroam a construção em estilo moderno do edifício ali construído. Esta obra está ali localizada em função da canalização do Ribeirão das Antas, na década de 70, buscando resolver os graves problemas sanitários decorrentes do lançamento de detritos de diversas origens. Foi construído inicialmente para abrigar o Palácio da Cultura, mas só foi concluído em 1982 com o objetivo de sediar o Centro Administrativo. Perdemos a cultura.

Se transitarmos rapidamente e em águas pouco profundas na historia dos períodos marcantes da arquitetura nos deparamos com o fato das primeiras grandes obras remontarem à antiguidade, muito embora as construções com a função de abrigar remeterem ao período pré-histórico. O abrigo caracterizou sempre a maioria das construções sendo a segunda tipologia mais utilizada destinada à arquitetura religiosa. Na historia do homem antigo os principais edifícios dentro das cidades foram os palácios e os templos. Contrapondo a esta pratica, os gregos e romanos, trouxeram a vida civil para o centro de interesse e a cidade converte no elemento principal da vida política e social daquela civilização. Neste período, onde se extrapolam as fronteiras do templo-palacio e o foco centraliza nos assuntos dos cidadãos ou da “polis” surge, como o termo indica, a política absolutamente ligada à cidade. Naturalmente aparecem os espaços próprios de manifestações de cidadania, locais adequados para a discussão de assuntos de interesse comum. Saltando para a cultura Renascentista surgem os espaços multidisciplinares acompanhando os avanços tecnológicos. Estes avanços caracterizaram o final do século XVIII e inicio do século XIX, acompanhando, lado a lado o desenvolvimento industrial. Surge a arquitetura moderna, o concreto, grandes vãos e nesta trajetória um forte discurso social e estético correspondente à renovação do ambiente de vida do homem contemporâneo.

Retornando ao edifício que abriga o Centro administrativo, nesta oportunidade ladeado por barraquinhas de exposição de produtos artesanais, semi-jóias e vestuário, enfeitadas por balões multicoloridos e que nos reporta a um conceito importante: O que caracteriza uma grande obra é a existência de grandes e nobres ideais humanos transformados em força atuante ao penetrarem o coração das massas populares. Sem este conteúdo, o monumento não passará de uma casca vazia e muda. Imediatamente relembra a passagem Bíblica citada em Mt. 21.12-16; Mc. 11.1 5-18; Jo 2.13-16 Lc. 19. 45-46 onde Jesus se enfurece com o comércio no Templo Sagrado e expulsa o que neles vendiam e compravam dizendo que a Sua casa é casa de oração que foi transformada em covil de salteadores.

A intenção desta reflexão está longe de criticar o evento da exposição, mesmo porque defendemos a necessidade de resgate de um espaço cultural para a cidade, mas como não existem coincidências, fica a saudade dos administradores com sentimento públicos correndo em suas veias, grandes estadistas que superam suas limitações pessoais e se fazem instrumentos de transformação da realidade. Eles dão sentidos e conteudo ‘a obra edificada. Estes sim merecem utilizar a caneta como se fosse a “Excalibur do Rei Artur”.

“Os monumentos são expressão das mais altas necessidades culturais dos homens. Estão destinados a satisfazer o anseio eterno do povo de traduzir em símbolos sua força coletiva. Os monumentos realmente viventes são os que dão expressão a essa força coletiva”. (GIEDON)

 

Regina de Faria Brito

Presidente

SINDIANÁPOLIS

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