Matéria – 06/11/06 – Eu tenho um projeto

Eu tenho um projeto

Por Regina de Faria Brito

 

A neurolinguistica é um dos campos mais recentes da lingüística, que diz respeito aos campos da linguagem, do cérebro e da cognição. Através dela podemos entender o mecanismo de funcionamento de nosso cérebro e a forma como representamos internamente as informações advindas do mundo externo, através de um ou mais dos cinco sentidos. Exemplificando – toda obra a ser construída acontece primeiro na mente e só então se transforma em um projeto para posteriormente ser realizada ou materializada.

Contratada como arquiteta urbanista pela Prefeitura Municipal de Anápolis, há 25 anos, fui obrigada recentemente a abandonar meus maiores projetos em relação à minha cidade e talvez por isto me ingressei na esfera sindical. Neste caminho em busca por justiça me deparei com o sofrimento, a agonia e a baixa auto estima a que o servidor municipal tem sido submetido, ora mais, ora menos ao longo destes quase cem anos.

Neste último dia 13 de setembro tivemos a assembléia prevista com vistas a uma passeata tão cobrada pelos servidores, nas assembléias anteriores do dia 27 de agosto e 1º de setembro. Informados da programação do Sindicato, alguns secretários municipais provocaram uma reunião e buscaram ceder em algumas reivindicações buscando sensibilizar a diretoria a não realizar a passeata e buscar um caminho de entendimento “mais light”.

Ao chegarmos à praça do ancião e já conhecendo os ânimos dos servidores, percebemos que esta seria uma missão impossível. Estava lá um repórter de uma emissora de televisão de Goiânia que conversando comigo sobre a situação percebeu a minha intenção de colocar água fria sobre a intenção dos Servidores acerca da realização da passeata. Como não acredito em acaso, percebi que aquele repórter era a resposta as minhas inquietações sobre a melhor maneira de conduzir a assembléia. Há muito tempo não levava um sermão tão bem dado. Ele se indignou com a minha complacência ao julgar a administração e defendeu seu ponto de vista de que o que está acontecendo em Anápolis é um crime e se fosse em um país de primeiro mundo os autores já estariam na prisão, pois salário não é negociável, é uma obrigação sagrada. Senti-me envergonhada e com vontade de voltar à prancheta muito embora tenha sido expulsa de minhas atribuições. Iniciei a assembléia já imbuída da dimensão do sofrimento e injustiça que aqueles servidores estão submetidos, mas ainda balbuciei o pedido dos secretários para abortar a passeata. A reação foi imediata e as pessoas já se posicionaram para sair e gritar, em desabafo à população, o seu repudio pela atual condição dos Servidores Públicos Municipais.

O cortejo de mais de 300 pessoas subiu a Av. Goiás e desceu a Av. Barão do Rio Branco e em determinado momento, ao olhar para trás e ver aquelas pessoas eu percebi com clareza que o Sindianápolis tem uma missão muito clara: resgatar a auto estima destas pessoas que parecem mais mendigos, maltrapilhos, implorando o que lhes é de direito. Esta administração, usando até técnicas de programação neurolinguistica quer convencer a comunidade anapolina que o Servidor efetivo e inativo é o grande responsável pela crise financeira do município, desviando a opinião do fato principal: Ele é a maior vítima da má gestão administrativa.

O aperto da mão calejada, do idoso me agradecendo no final do trajeto e perguntando quando vai ser a próxima passeata eliminou a dúvida interior se eu deveria mesmo ter largado os projetos pelo Sindicato. Desta forma é que hoje eu tenho um projeto: mostrar ao servidor que não é tirando um Prefeito e colocando outro que nossa situação atual vai ser transformada, mas só a organização e o fortalecimento sindical, através da mobilização de todos servidores poderemos conquistar um espaço que é nosso por direito. Neste espaço existe a dignidade, o respeito e a justiça que perdemos ao longo da história.

Algumas horas após a passeata, fui presenteada por mais um “acaso”. Buscando um documento nos objetos guardados do meu amado e saudoso “paiZico”, eu encontrei um apontamento, com sua letra, que dizia – “O homem que não vive para servir, não serve para viver ”. Eu agradeço a meu pai o seu apoio e confirmação nas dúvidas que tem me acompanhado ao longo desta trajetória e sei agora que fui forçada a abandonar um grande projeto para ingressar em um outro muito maior, talvez o mais difícil de minha vida.

 

 

 

 

 

SINDIANAPOLIS

Sindicato dos Funcionários e Servidores Públicos Municipais de Anápolis

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