Matéria – 26/01/10 – Se não for por amor…

Se não for por amor…

 

                                             

                                   Invariavelmente o início do ano tem sido acompanhado por uma tragédia coletiva que nos alerta sobre a impermanência de nossas vidas nessa esfera terrena. Sem nenhum ranço místico-apocalíptico é notório o sentimento de que as calamidades tomaram proporções descomunais. Seja pelos efeitos já cientificamente comprovados do efeito estufa ou pela ampla divulgação que os fatos hoje possuem em um mundo globalizado, a realidade é que o planeta acompanha passo a passo e em tempo real as atrocidades desses acontecimentos. Tenho a certeza que as lágrimas que externaram meus sentimentos perante as imagens de Porto Príncipe, capital do Haiti, arrasada pelo pior terremoto dos últimos 200 anos, banharam diversas faces em todo o planeta. A capital do país foi devastada, matando milhares de pessoas e ameaçando milhões de pessoas neste país já desesperadamente pobre. A Cruz Vermelha Internacional estima que mais de 80 mil pessoas tenham morrido no tremor de magnitude 7 da terça-feira, do dia 12 de janeiro.

                   Ainda hoje dezenas de milhares de pessoas continuam a vagar como almas penadas pelas ruas entre destroços e corpos em decomposição à espera de alimentos, tratamento médico e informações sobre familiares. As cenas apresentadas nos apresentam uma realidade como se uma bomba atômica estivesse sido lançada em um país que, habitualmente, já vive em estado de emergência, pois a miséria é endêmica e é, sem dúvida, o país mais pobre da Américas. Sua história está permeada pela presença de governos corruptos, desemprego, fome e gangues armadas. Hoje, os haitianos não têm casa para voltar e vagam pelas ruas, com medo e sem assistência. A lista de carências é alarmante: faltam abrigos, água, luz, comida e remédios para todos e somam mais de 400 000 pessoas precisando de absolutamente tudo.  O que lhes resta é o resto e daí para atos de violência é um pequeno passo.

                   De acordo com São Paulo apóstolo, “Se não for por amor, será pela dor” e é através desta orientação que podemos buscar um lado positivo em tamanha calamidade. Os haitianos estão pedindo e conseguindo ajuda urgente que chega de todos os cantos do planeta. Organizações locais e internacionais de imediato mobilizaram todos os esforços comunitários de alívio e resgate. Pessoas de todas as cores e culturas se uniram com o objetivo comum de apoiar estes grupos locais enviando uma onda de doações do mundo todo para apoiar o trabalho solidário na linha de frente da tragédia. O dinheiro está sendo usado agora para salvar vidas e, depois, para recuperar e reconstruir suas comunidades.

                   Este trágico episódio nos remete ao fato de que vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes. Ao mesmo tempo em que o mundo está em crise fruto de uma visão de mundo cartesiano, racionalista e tecnicista em que a promoção do comportamento competitivo tornou uma das principais manifestações da tendência auto-afirmativa em nossa sociedade, os movimentos de solidariedade se fazem presentes nos despertando para o fato que somos todos irmãos. Nesta situação extrema temos que concordar com aqueles que afirmam que ninguém comete erro maior do que não fazer nada.

                  Esperamos que essa tragédia do Haiti possa abalar nossas estruturas sustentadas por valores competitivos e egocêntricos e nos conduza a um caminho urgente de transformação de nossa visão de mundo. Temos plena consciência que os abalos sísmicos não são causados pela ação humana, mas estão muito vinculados às condições de extrema desigualdade social. A grande maioria da população está submetida às trágicas conseqüências da desigualdade social em que o fator humano está posicionado em um plano secundário. As catástrofes vêm nos balançar para a necessidade urgente de uma nova ordem mundial estabelecida em princípios éticos, de cooperação e justiça social.

Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS – www.sindianapolis.org

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