ANÁPOLIS TAMBÉM TEM TIRIRICAS
Prof. Myriam Marques
É impressionante o quanto os fundamentos da Psicanálise nos ajudam a compreender os fenômenos sociais, sejam eles os mais bizarros que possam ocorrer no contexto das sociedades mundiais.
Segundo Jacques Lacan – Psicanalista Frances – “O SUJEITO MORA NA FALTA”, isto quer dizer que todos nós temos desejos, traumas, angústias, os quais compõem o nosso EU enquanto sujeitos.
Na busca incessante de alívio para as angústias, muitas vezes desviamos o foco dos problemas para as múltiplas possibilidades de satisfação que existem disponíveis no “mercado”.Assim, enquanto estamos focados no imaginário das coisas presentes, esquecemos nossos traumas e angústias. É por isso que programas como BIG BROTHER e outros similares são capazes de conquistar tanta audiência.
Mais uma vez recorrerei aos ensinamentos psicanalíticos, lembrando que o mesmo Jacques Lacan desenvolveu a teoria de que “O SUJEITO É CONSTITUÍDO DE LINGUAGEM” isto significa dizer que cada um de nós é produto da linguagem apreendida desde a infância. Somos feitos do conjunto de linguagem assimilada na família, nos grupos sociais, na igreja e na sociedade através dos veículos de comunicação de massa. Cada palavra ouvida, diz Lacan, vai construindo um novo ser que habita no interior do sujeito.
Sabedores deste processo iminente tentaremos compreender o porquê de tantas controvérsias no contexto das decisões políticas no Brasil. O que leva pessoas a tomarem medidas tão contraditórias? Seriam elas reflexos da revolta que impera no intimo de grande parte da população? Ou simplesmente a constatação de que muitos se espelham nestas criaturas construídas pela mídia para “entretenimento” e apatia de todos. É preciso entender que nada é por acaso. Pessoas reagem muitas vezes conforme seus próprios desejos insatisfeitos.
A busca de alívio para suas “faltas” mais inconscientes levam pessoas a agirem de modo também inconsciente. Daí a força que exerce a mídia sobre o pensamento e o desejo das criaturas humanas. A fuga é reservatório das angústias. Assim, tudo quanto é ilusório, mágico, ficcional, engraçado ou impressionante é melhor assimilado pelo sujeito.
O próprio Freud acreditava que utilizar o humor e a ironia no dia-a-dia deixava o cotidiano mais leve e a realidade mais tolerável. É assim que os fatos e fenômenos sociais podem ser explicados. A linguagem do deboche, da banalização dos valores, da exposição das individualidades consegue sucesso surpreendente. O lúdico, a fantasia, o diferente, o espetáculo, a piada, a música, o futebol, as desgraças humanas transformadas em “graça” fazem de algumas pessoas “mito” e isso conquista o “povo” que sofrido pelas cargas do dia-a-dia, quer descarregar acreditando serem felizes por alguns momentos.
Vejam como é verdadeira a teoria de Lacan ao afirmar que o sujeito é produto de linguagem. Aquele sujeito que dominar uma linguagem persuasiva, seja ela em qualquer modalidade artístico-cultural, será capaz de arrastar multidões.
Diante de tudo isso a conclusão não é positiva, pois só revela uma população extremamente carente, sujeitos angustiados, cuja busca pela satisfação conduz seus pensamentos e desejos na promoção de outro sujeitos que vivem de enganar pelo riso falso e ou pela fala mansa.Cuja linguagem carregada de ironia comove e cega.Tem muito “abestado” achando graça ou acreditando que realmente o é.
É triste reconhecermos a realidade. Quantos “abestados” assumiram tal condição e nem se deram conta disso.Mais de um milhão de abestados. É preocupante e não engraçado. Este fenômeno deve servir para análise e estudo sobre os sintomas sociais.
Como cidadã anapolina, professora, artista e mãe, não posso deixar de me preocupar com os rumos que estão tomando os caminhos sócio-políticos-culturais de nosso país e conseqüentemente de nossa cidade. Não dá para misturar realidade e ficção. A coisa é séria. Requer pensamento crítico, reflexão e análise. Recuso-me a alcunha de “abestada.”
Prof. Ms. Myriam Marques
Presidente do Conselho Municipal de Previdência Social