Matéria – 07/11/08 – Impressões de Campanha

IMPRESSÕES DE CAMPANHA

Quando uma porta se abre à nossa frente não podemos nos esquecer das vivências que antecederam e nos levaram a estar exatamente no local onde tempo e espaço foram determinados pela nossa escolha pessoal. Olhar analiticamente nos dá o poder de transformar não apenas nossa realidade, mas interferir conscientemente nas relações que nos circundam. Sou servidora da Prefeitura de Anápolis há vinte e cinco anos e apenas nestes últimos cinco anos não atuei diretamente na área de planejamento urbano do município. Esta foi a forma desta administração, que ora se finda, me punir pelo fato de não ter sido conivente com a política de beneficiar “os amigos do gabinete” em detrimento do meu compromisso na observação dos preceitos éticos inerentes a missão intelectual do pesquisador/planejador. Mesmo porque o planejamento comprometido com a justiça social não pode se aliar a uma ideologia de Estado que venha a justificar todas suas atitudes em nome do “interesse público” misturando tendenciosamente o que é privado do que é efetivamente interesse da coletividade. O exílio a que fui submetida, com o conseqüente afastamento do trabalho técnico desenvolvido durante décadas, me conduziu firmemente à via do sindicalismo em prol da defesa dos direitos feridos dos servidores públicos municipais.
Nos momentos finais do prazo fixado pela Lei eleitoral e após muita indecisão optei por colocar meu nome como candidata a uma vaga para a Câmara de Vereadores pelo Partido Verde (PV). A indecisão era fruto do meu conhecimento antecipado de que estaria entrando em um processo que, na maioria das vezes e com muita facilidade, os princípios de moralidade são abandonados. Infelizmente a sociedade brasileira tem sido extremamente permissiva com as ações que desconhecem as normas éticas de conduta e com sua omissão e conivência fortalece a cultura e a indústria da corrupção.
Minha intenção, neste momento não é questionar o mercantilismo e as negociatas presentes no processo eleitoral, muito menos discorrer sobre o vergonhoso processo de campanhas milionárias, embora não declaradas. Não quero também ressaltar a hipocrisia das relações entre os agentes políticos. Desejo sim tocar em um dos pontos, dentre tantos outros, que mais me marcou. Adentrei como provavelmente os demais candidatos em lares com condições subumanas que, hoje, nem sempre estão localizados em áreas periféricas da cidade. Vi fome de dignidade estampada nos olhares desesperançados, presenciei o flagelo e as lágrimas que brotam de corações vitimados pela injustiça e segregação. Estima-se que no Brasil, hoje, são mais de 14 milhões de pessoas vivendo sobre o peso da fome e da injustiça social.
“Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham em desolação. Abre a tua boca; julga retamente; e faze justiça aos pobres e aos necessitados.” (Livro dos Provérbios).
De todas as experiências vivenciadas esta foi a mais intensa e deixou em minha mente a pergunta: Como nossos políticos que não só tem acesso a esta dura realidade, mas usufruem dela através do voto, conseguem conviver com sua consciência após se deparar com este quadro de pobreza e desolação? A prática tem demonstrado que, na maioria das vezes, só vão se lembrar do que viram nas próximas eleições e novamente vão utilizar este quadro sombrio para repetir o expediente de prometer “milagres” no prazo de quatro anos.
Posso afirmar de minha parte que o caminho percorrido durante esta campanha trouxe o ingrediente humano às conjecturas técnicas de planejamento. Hoje tenho a certeza de que o intelectual engajado tem o papel de promover não só a conscientização sobre a realidade presente, mas suas ações devem refletir esta busca da transformação desta situação em foco.
Esta experiência trouxe luz ao dizer de Frei Betto: “Não te deixes desiludir pelo mundo que te cerca. Saiba que és chamado a transformá-lo”.

Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS –www.sindianapolis.org

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