Um ponto de vista
A cidade de Ana comemora102 anos. Uma longa historia que iniciou com as primeiras penetrações pelos “tropeiros” vindo da região norte com destino às terras do Sul do País e foram se instalando nas cabeceiras do riacho das Antas.
A história de Anápolis possui alguns fatos relevantes para a compreensão da estrutura socioeconômica e espacial do município. Resumidamente e sob o ponto de vista urbanístico podemos enumerar os seguintes períodos:
– Primeira fase (1879 a 1935), o crescimento urbano se adequou à topografia e a cidade cresceu espontaneamente entre os fundos de vale em torno da capela de Santana. Já em 1907, após a obtenção do título de vila, inicia-se a construção de rodovias e o comércio passa a se estabelecer no prolongamento das vias de acesso à cidade. Este período foi marcado pela chegada da ferrovia em 1935, que representou o Plano de Metas, em nível do Governo Federal, de ocupação das fronteiras denominada “Marcha para Oeste”.
Sua chegada a Anápolis em 1935 veio acompanhada da expectativa da “modernidade” e intensificou as relações das atividades econômicas com outros centros urbanos, pois Anápolis consolidou-se como entreposto comercial de troca de mercadoria. A produção do espaço urbano passa a se desenvolver de forma radioconcêntrica tendo como ponto de partida a estação Ferroviária. Em 1951, ainda no setor central, houve a inauguração do Mercado Municipal acompanhado do surgimento dos edifícios atacadistas localizados nas imediações.
– Segunda fase (1950 a 1970), representa o período eufórico da economia nacional, pontuado pelo surgimento de Brasília, a 147 km de Anápolis, pelo crescimento de Goiânia, capital do Estado, distante 54 km e a implantação da Belém-Brasília, evidenciando um rápido e desordenado processo de urbanização.
– Terceira fase (1970 a 1990). Embora se tenha aprovado o Plano Diretor Integrado elaborado em 1969, a incapacidade do poder municipal em gerenciar sua implantação acrescida da pressão exercida pelos empreendedores imobiliários para conseguir benefícios que contrariavam a legislação, fez com que a estrutura urbana de Anápolis continuasse a se transformar rapidamente de forma desordenada. Inicia-se, nesta etapa, a formação da ocupação periférica com seus graves problemas advindos de uma urbanização desigual, pressionada pelos efeitos deletérios da baixa densidade de ocupação.
Alguns eventos contribuíram no direcionamento da expansão urbana do período: a implantação da Base Aérea de Anápolis ao norte do município, do DAIA (Distrito Agroindustrial de Anápolis) ao sul, e do anel viário da BR-153 à leste funcionando como pólos indutores de crescimento e de especulação de parcelamento do solo. A Base Aérea se reporta a um projeto nacional de implantar áreas de segurança nacional em locais estratégicos e a BR-153 representa o investimento em infra-estrutura, objetivando o desenvolvimento do plano de metas de Juscelino Kubistchek.
Um novo Plano Diretor foi elaborado em 1985 tendo como objetivo principal a contenção da expansão urbana e intervir nas leis de parcelamento, zoneamento e uso do solo como forma de amenizar os custos de urbanização.
– Quarta fase, a partir da década de 1990, se caracteriza pela influência do Plano de Metas do Governo Federal que estimula a criação de corredores de exportação para o Mercosul e cria o Porto Seco, Estação Aduaneira Interior (EADI), que facilita a importação e exportação de produtos. O Porto Seco instalado desde 1999 está localizado no Distrito Agroindustrial de Anápolis – DAIA. Soma-se a este fato a efetivação do trecho goiano da Ferrovia Norte-Sul. Outro empreendimento de grande significado para a cidade é a implantação da Cidade Universitária, junto ao entroncamento da rodovia GO-060 e BR-153 e a consolidação do Pólo Farmoquímico localizado no DAIA. Neste período, mais especificamente em 2006, é aprovado um novo Plano Diretor.
Em grandes pinceladas foram enumerados pontos marcantes que nortearam a evolução urbana do município que agrega grandes avanços permeados pelo acumulo de graves problemas. A elaboração de Planos Diretores ao longo de sua historia não minimizou a segregação espacial, o alto custo de urbanização, a deteriorização de áreas de preservação permanente, conflitos de trânsito, poluições, dentre tantos outros problemas. O planejamento, representado pela idéia do Plano Diretor, está necessitando de uma revisão radical, pois todos os seus pressupostos estão a exigir um questionamento. A solução dessas questões só pode ser encontrada em uma obra coletiva, na qual a maioria detenha a supremacia da decisão. A hora é agora, Anápolis faz 102 anos e a terra dos “campos limpos das boas aguadas”, cantada em verso e prosa, merece ações efetivas que garantam sua condição de ser o “berço das águas” que se direcionam de norte a sul de nosso país.
Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS – www.sindianapolis.org